13 de maio de 1980, a casa estava enfeitada, repleta de gente, balões, presentes e guloseimas. Túlio comemorava seus onze anos de idade. O menino era muito esperto, habilidoso, inteligente e ágil, mas também facilmente irritável. Possuía olhos cor de mel e cabelos castanhos claro, um sorriso espaçoso e sincero, tratava-se de um conjunto que chamava atenção, mesmo com tão pouca idade.
Entre seus convidados, parentes e amigos da escola, estava a garotinha que ele gostava, secretamente. Ele e todos os seus amigos estavam passando pela fase de " meninos são mellhores, odeio meninas, nós somos mais velozes, mais fortes [...]!". Então, nem mesmo ele aceitava uma situação dessas, portanto não imaginava que seus colegas agiriam de forma diferente. Mas ele não conseguia suprimir aquele sentimento, ele gostava de passar por ela, sentir o seu perfume suave, ver como se movia ao mexer no cabelo, a maneira como sorria quando o via."Ela é uma beleza", pensava ele.
Fabíola também tinha onze anos, era vizinha de Túlio, e estudava na Escola Piamontês. Era uma aluna que se destacava, muito questionadora e responsável, era uma das primeiras da turma, muito comunicativa e contraditoriamente, conversava demais durante as aulas, e quando os professores a perguntavam uma coisa qualquer, sobre o conteúdo explanado, ela sempre tinha a resposta na ponta da língua, e isso os deixava irritados.
Ela acreditava que a escola seria mais um veículo social que cultural, pois aprendia tudo sozinha, em sua casa, então, aproveitava o ambiente para conviver com as pessoas, aproveitá-las e se divertir, já que, sua mãe não a deixava sair para brincar na rua, ou na casa de alguém, ir ao shopping com as amigas, ou coisas do tipo. Ela não conseguia entender, todas suas colegas faziam isso... E não se achava tão criança, assim!
Sua mãe, sempre era chamada à Escola, os professores falavam do mau comportamento de Fabíola, mas para Norma, era algo sem cabimento, afinal, a menina só tirava 9 e 10, então, como poderia ser tão indisciplinada daquela forma? Pensava que poderia obter aquelas notas com colagem, entretanto os professores garantiram que a menina não fazia isso, pois sempre que eles a questiovam durante as aulas, ela respondia corretamente, sem hesitar.
- Então, por que vocês me chamaram aqui?
Eles nunca tinham a resposta, a menina era tão brilhante, a ponto de não conseguir ficar quieta.
Fabíola não era linda, embora fosse dona de uma beleza diferente da convencional, com um nariz grande, olhos profundos e esverdeados, boca carnuda e grande, e cabelos acobreados. É difícil imaginar uma combinação dessas, em uma criança, embora o tempo guardasse um belo presente para a sua mocidade.